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segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Caixa de Pandora: para além das tarifas e dos atos “apolíticos”

“Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez.
Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”.
(Paulo Zottolo, presidente da Philips no Brasil, em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Philips no Brasil, afirmou que, ao apoiar o movimento “Cansei”, desejava remexer no “marasmo cívico” do Brasil, 2007)
 WELLINGTON FONTES MENEZES *
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Poucos meses após tomar posse, a incompetência explícita do prefeito de São Paulo Fernando Haddad preocupa toda a cúpula do PT. Todo o crescimento desengonçado, das manifestações com uma reivindicação realisticamente simples, ou seja, a ênfase na redução de tarifa dos meios transportes públicos. Percebe-se o pragmatismo circunstancial deste tipo de proposta se comparado a tantas outras mais relevantes e contundentes já circulantes na vida pública da cidade paulistana. A questão pertinente é: por que uma questão tão “menor” elevou-se tamanha comoção social e quem se beneficia realmente com estas manifestações?

  1. 1.      Os ingredientes da multidão.
Em uma grande amalgama, o ponto central são os estudantes oriundos de várias origens, a partir da típica classe média, os remediados e até os mais pobres acabaram se unindo momentaneamente em torno de uma bandeira frágil que é a questão da elevação de vinte centavos adicionados ao valor da tarifa vigente dos transportes públicos, mas que juntou os desejos latentes e negados para poder reluzir algo maior no balaio de suas ambições reivindicatórias. Lembrando ainda que São Paulo é uma cidade historicamente conservadora politicamente (prova que aqui é um reduto dos neoliberais tucanos) e somente uma manifestação tão pragmática e pontual poderia ocorre este tipo de voluntarismo nas manifestações, sem se apegar com alusões messiânicas e sensacionalistas com outras distintas realidades pelo mundo. Alguns dizem amiúde, de forma apologética, em uma “Primavera Brasileira”, em alusão às mobilizações de milhares jovens contra as ditaduras endógenas dos países árabes, mas que no nosso caso, estamos momentaneamente numa outra estação climática e com divergentes demandas, apesar de serem humanamente justificáveis, mas histórica e socialmente muito distintas.
O apelo “popular” é devido ao verniz do aumento da tarifa dado pelo inábil prefeito neopetista Fernando Haddad (o primeiro reajuste tarifária de sua gestão), pesa no bolso do trabalhador, mas irrisório se comparado às demais aumentos das gestões passada. Logo, a catarse pode ser merecida, mas está longe de ser justificada com tamanho ímpeto de fulgor de seus manifestantes.   Nesta esteira, Haddad também não percebeu que esse é movimento tipicamente da Pós-Modernidade, sem definição apriorística de cores ou ideologias, uma pasta de rostos mascarados ou não, sendo mesclado de extremistas tataranetos de Stálin até candidatos em potencial da juventude hitlerista, também incluindo petistas e anti-petistas, tucanos raivosos e, naturalmente, da maioria de jovens que apenas querem “alguma coisa para além de outra coisa”, que talvez seja o preço mais baixo da passagem de ônibus. Esta constituição amorfa reivindicatória faz parte de um coro assimétrico por “passe livre” nos transportes públicos (dai vem o nome de batismo, “Movimento Passe Livre”) que vem de uma classe média remediada e crescente (parida pela estabilidade econômica do governo tucano de FHC e crescimento do PIB da gestão do Governo Lula), mas aproveitou o momento para se manifestar, nem que seja apenas para postar fotos no Facebook — e, muitos deles, pouco se lixam para a população mais pobre (aliás, a “indiferença” é fenômeno típico de todas as classes médias no modelo capitalista). . Mas as voltas que o mundo dá, o pragmatismo cotidiano soa mais forte, logo a questão econômica é mais sedutora e realista, pesa na bolsa do trabalhador e da questão de sobrevida a qual ele vegeta entalado em horas intermináveis no precarizado transito caótico paulistano.
A questão da gratuidade repentina dos transportes coletivos passa necessariamente pela reestatização do sistema, que por sinal, lotada por máfias viscerais que fazem a Prefeitura de refém, mas em nenhum lugar do mundo com densidade demográfica considerável e problemas similares (ou menores) que os nossos, conseguiu algum êxito na gratuidade, exceto algumas ilhas paradisíacas ou cidades muito pequenas. Naturalmente, o desafio é pertinente, mas irrealístico momentaneamente. Logo, a justificativa da causa é controversa, ao se lutar por uma proposta supostamente idílica em meio às outras necessidades tão mais gritante e urgente, soa no mínimo, muito ingênuo ou suspeito. Todavia, não é esta a questão principal, uma vez que as mobilizações são salutares e cada um pode se posicionar como desejar no paiol de desejos e anseios. Porém, quem ganha com um movimento sem uma pauta pouco realista?
Com a liberação do “vinagre” pelo Secretario de Segurança de São Paulo  (a outrora substância “terrorista” proibida em passeatas pela risível Polícia Militar), a salada de frutas e hortaliças do movimento dos descontentes com a tarifa de transportes é composto de muitas figuras curiosas e, por que não dizer, até mesmo ingratas. A UNE que vive nadando em dinheiro público com as verbas que chega aos milhões do Governo Federal, com que cara vem a público para protestar contra o governo? Assistidos pelo Governo Federal nas gestões Lula e Dilma, o fato é que grande parte dos estudantes que se manifestam, por mais que se auto-intitulam que são “apolíticos”, foram beneficiados pelo leilão de vagas e cotas das universidades públicas e os PROUNIs e FIES da universidade privadas, pagam metade da passagem de transportes vigente nos enlatados coletivos urbanos. Repentinamente, os mesmos estão usando um discurso de desestabilização do mesmo governo que os beneficiaram com projetos populistas de “inclusão social”. Muitos deles são oriundos da classe média, que tem ojeriza transportes públicos, tem horror a pobres e afins e não veem a hora da esquerda brasileira partir do país e ficar sitiada em Cuba ou na Antártida.
Há uma frustração aparente da exuberância prometida de expectativas muito além da realidade gerenciada nas administrações federais neopetistas de Lula e agora, Dilma Rousseff.
Curiosamente, de tantas demandas urgentes no Brasil (alias, isto é o que não falta em um país que vive no remendo social), se pegaram a uma bandeira que apesar de sua relevância, não é uma das mais emergenciais, porém atrapalha a vida (e muito) da classe média: o trânsito caótico e as vias saturadas de acesso da cidade.
Nota-se de forma sintomática, que tais movimentos vem se alastram em várias cidades do país que, independente de terem aumento de tarifas de transportes coletivo, reivindicam uma plataforma em branco com apenas bordões de ordem e desejos subjetivos. Partidos mais extremistas apenas ateiam gasolina na fogueira com palavras de ordem com o bolor do início do século XX e cuja insipiência de suas idéias não deixam saírem do ostracismo. As bandeiras são tão difusas que preferem literalmente queimarem todas as bandeiras partidárias (como assim propõem brilhantemente algumas “cabeças” ocas do movimento). O germe fascista se encontra na negação da política e na banalização da democracia.
  1. 2.      A agenda invisível e a incompetência governamental
Romper com o atraso secular e queimar etapas em poucas décadas são sempre tarefas difíceis, e arriscadas, com alto preço político, sujeitas a fraturas e diversos descontentes. Os grandes temas de outrora se esfacelaram em micronecessidades emergenciais do cotidiano. A ordem do dia é das questões mais próximas e imediatistas ao cotidiano das pessoas, fruto do sucesso que o neoliberalismo contaminou em escala mundial e, aliado a isto, também ao refluxo de um mundo sem grandes ilusões oníricas do pós-muro de Berlim.
Alguns se glorificam que tais manifestações são “únicas” da história do país e estamos nos desvirginando neste exato momento para um novo Éden dos Trópicos (mesmo sem nenhum conjunto de idéias mais concretas na onírica plataforma de reivindicações). Isto que dá faltarem nas aulas de História do Brasil e esquecerem as lutas históricas que muitos deram literalmente a vida para os mesmos hoje se arrogarem oportunisticamente de serem os “salvadores da pátria”. É um desrespeito crasso com nossa História e com a memória de valorosos seres humanos. Mas na fluidez imediata dos “tablets”, celulares de última geração, redes sociais intercambiáveis e instantaneidade das relações, quem liga para essa coisa embolorada chamada “História”, não é?
O crescimento de um movimento difuso deve-se escancaradamente à falta de habilidade e sensibilidade política do prefeito Haddad, lembrando que ele foi o ministro de Educação do Governo Lula, além de receber a prefeitura de bandeja por ser um dos pupilos do próprio ex-presidente Lula. Como se estivesse entronado no alto da Prefeitura, lembrando alguns de seus fanfarrões antigos sucessores, como Jânio Quadros ou Paulo Maluf, Haddad sequer quis ao menos ouvir antecipadamente os manifestantes a respeito do valor vigente da passagem (paradoxalmente, a aproximação com os movimentos sociais foi um fundante pilar histórico do PT). Neste episódio que registra o quanto a incompetência e a estupidez política poderá ter um alto preço para o futuro imediato.
  1. 3.      A violência como retórica e (mais) gasolina na fogueira
No Brasil há uma estranha lógica que une trabalhadores e a elite, um certo fascismo verde-amarelo mesclado com um “jeitinho” totalmente “nosso”. Aprendemos aceitar a corrupção de todos os lados, naturalizamos e minimizamos nossas consequências. Quando é contra os outros, vale a pena ter Polícia. Quando ela inibe até a tranquilidade de fumar um baseadinho e cheirar uma fileira de pozinho ilícito, logo ela, a polícia, é incômoda e descartável.
Nossas elites preferem (e adoram) uma força de repressão tosca, mas eficiente. Paradoxalmente, a população também aplaude quando esta mesma polícia, sádica e eficiente, mata supostos bandidos (ou quem se mexer pela frente) sem contar até três. Muitos são saudosistas dos tempos da repressão dos milicos, mesmo sem sequer ter vivido nesta época. Não há problema algum quando a pancadaria realizada por forças policiais é contra professores e demais trabalhadores de funções baixas ou médias, favelados ou movimentos sociais de pobres como MST ou MTST, mas quando isto se volta para a classe média bem-nutrida e seus filhos, ai se diz aos quatro ventos, que Polícia brasileira é a pior do mundo.
Não há duvidas que o trabalhador comum, aquele que recebe até dois salários mínimos, certamente apóia qualquer manifestação que reduza o preço de quaisquer mercadorias, mas não é apenas a tarifa de transporte coletivo que pesa no seu bolso. Este trabalhador sente de forma existencial o seu endividamento bancário atrelado à um salário que vem sendo corroído por uma sorrateira inflação que o governo nega existir. O caráter “apolítico” mascara que na sua essência é um convite para a negação da política como meio de construção democrática, a opção multifacetada dos pequenos grupos (alguns com acéfalos tons violentos) que se arvoram pertencerem à causa do “passe livre” e daí a dificuldade de reunir uma agenda consensual de propostas (tarefa sempre pouco trivial em qualquer tipo de construção reivindicatória).
A violência se tornou a força motriz do debate, deixando de lado a uníssona pauta da redução da tarifa. Tudo graças aos “vândalos oficiais e uniformizados” do Estado e seus desejos lascivos de uma nostalgia dos tempos de chumbo dos generais da ditatura. A tosca polícia repressora do governador tucano Geraldo Alckmin, com incompetência exemplar, conseguiu a proeza de dar mais fôlego aos manifestantes e criar uma indignação de boa parte dos paulistanos. Logo, após o cenário bizarro da ação truculenta da política desta quinta-feira, 13/06, toda a discussão deslocou das tarifas de transportas para a escalada de violência dos atos protagonizados por manifestantes e a polícia. Por sinal, a postura de Haddad ao longo das quatro manifestações foi de um prefeito covarde, omisso e que somente mostrou sua cara nesta manhã de sexta-feira, 14/06, diante dos microfones do “Bom Dia SP”, da Rede Globo. Curiosamente, Haddad além de ser mostrar incompetente, também se mostrou drasticamente submisso à uma emissora que sempre criticou toda e qualquer manifestação popular e é o símbolo do império das comunicações neste país.
Paradoxalmente, os maiores militantes dos movimentos difusos foram às forças de segurança de Alckmin, que conseguiram a proeza de fazer absolutamente tudo errado e atingir o alvo por efeito colateral: o rastilho de pólvora do Circo Brasil. Nem todas as mobilizações populares são de “esquerda” como muitos entusiastas se iludem (aliás, muitos saudosistas adoram se iludir com qualquer estouro de bexiga em festa de criança em forma de gozo esplendido: “Viva a Revolução!”), mas representam diferentes interesses conforme o gosto da reivindicação e fatos políticos momentâneos.
  1. 4.      Ares de manipulação e enxofre circulante.
O momento é de uma metamorfose ambulante. Por que será que a Folha de São Paulo, que antes pedia ação enérgica da Polícia Militar em editoriais contra os manifestantes, subitamente, está usando seus principais editorialistas (antes todos torciam seus narizes contra os “vândalos” manifestantes) para apoiar o movimento e passou agora até divulgar um bizarro “calendário de protestos” em seu site oficial?
De repente, o passe livre dos transportes se transformou no passe livre para desestabilizar o governo Dilma à quase um ano das eleições gerais no país. Lembrando que as alas mais conservadoras fazem de tudo para voltar de fato ao poder e coibir qualquer governo minimamente progressista (mesmo sendo bem estabelecidas tais alas no atual governo federal). Curiosamente, a meninada que antes era “vândala” vai se transformando em “mártir” pela imprensa por uma causa tecnicamente “simples e pontual”, mas que estranhamento esta sendo usada como bucha-de-canhão para se colocar neste balaio todas os ataques e queixas contra o governo neopetista.
A conservadora Revista Veja que sempre foi contrária a qualquer manifestação popular, tem ojeriza aos pobres e aos trabalhadores, sempre reacionária da primeira à última página, agora, num passe de mágica, adula a criançada (ao modo da revista, é claro!) com até mesmo uma matéria de capa (ver edição desta semana) com o pomposo e hercúleo título: “A revolta dos jovens”.
É preciso refletir quem realmente está se servindo das manifestações que outrora se passava de atos cívicos, juvenis de bons moços e boas moçoilas contra dragão virulento do aumento da passagem (como se jamais houvesse nesta cidade aumentos sucessivos e abusivos de tarifas de transportes públicos) para ganhar corpo e se transformar num mecanismo da direita para voltar ao poder.
  1. 5.      (Re)nascendo um “Cansei popular”?
Não há como não associar o atual movimento “apartidário” com um outro movimento igualmente “apartidário” criado pela nata da burguesia brasileira no ano de 2007, denominado “Cansei”, cujo nome oficial era “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros”, que reunia em suas fileiras empoladas estavam empresários ligados a FIESP, socialites, artistas e cantores, e entidades da sociedade civil como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), num total de mais de sessenta entidades segundo página oficial da  época.  O coro partidário estava sendo puxado pelo PSDB e o DEM e estavam alijados do Governo Federal. Na época o movimento se dizia apartidário (mesmo contando com apoio dos partidos da centro-direita) movimentando uma bandeira do moralismo, ancorado numa plataforma em branco, bradavam o “fim da corrupção” e, claramente, objetivava desestabilizar o então neopetista Governo Lula. Todavia, sem uma aderência com os demais setores da sociedade e sem seduzir um “clamor popular” e no auge da popularidade de Lula, o movimento não vingou. Curiosamente, os mesmos que reclamavam do governo neopetista, foram os maiores beneficiados das medidas neoliberais de Lula. Anos mais tarde, a partir de uma anoréxica pauta de reinvindicação estudantil, parece que um novo “Cansei” vem se tomando forma, com ares populares, angariando todos os descontentes e oportunistas de plantão, reunindo desde os mais jovens da classe média, estudantes beneficiados com programas sociais do Governo Federal, profissionais liberais de direita ou descontentes com a esquerda e sorrateiramente a visão golpista da grande mídia.
As vaias contra a presidente Dilma neste sábado, 15 de junho, na abertura da “Copa das Confederações”, em Brasília, é um sintoma deste processo que vem ganhando corpo no país. Quem vaiou Dilma? Os mesmos que pagaram um preço exorbitante, ou conseguiram com alguma gratuidade, os ingressos para assistir a partida de abertura do torneio de futebol entre Brasil e Japão. Desta forma, foi à burguesia fina e educada que vaiou a presidenta. Lembrando que a corrida presidencial já começou não-oficialmente e a mobilização da direita e das elites nacionais que não suporta qualquer governo minimamente progressista, abrindo alas para se utilizar das conhecidas ferramentas de desestabilização governamental, agora municiada e orquestradas pela repentina insatisfação popular sem um núcleo definido de algumas camadas populares com o oportunismo da grande mídia, sempre contrário as interesses dos trabalhadores.
 Toda mobilização poderá ser legitima, mas o mesmo não poderá ser dito de suas reinvindicações. Assim como não é legitimo o clamor popular para linchar um dado indivíduo e tampouco a violência de apedrejamento de alguma mulher com “indecências” perante as leis do Islão. Em meio à uma edificante “causa nobre” (por sinal, uma única realmente redigida – redução de tarifa – e o restante, embora justíssimas, são ainda miragens de possibilidades) , a salada envinagrada serve bem a direita fascista brasileira que apóia, aplaude e sorrir. Há anos ela não via um projeto tão eficiente e “popular” para enterrar os governos minimamente progressistas do país e paradoxalmente, auxiliados por boa parte da própria esquerda, movida pelo sectarismo.
Logo aparecerão os fundadores da nova ordem, ilibados e preocupados com o povo que roubaram o doce das crianças: a direita e seus extremistas envernizados e “solidários” às demandas populares. O efeito “Collor de Melo” foi um episódio sintomático de nossa recente democracia dos trópicos e ávida por soluções mágicas. Por enquanto, com o riso de orelha a orelha, a burguesia cochicha entre seus elementos de grife e pequenos burgueses reacionários: “vamos deixar o circo pegar fogo, canibalizar o leão, sodomizar o palhaço, a polícia de Alckmin colocar mais combustível e a esquerda desorientada, metendo os pés pelas mãos”.
Caberá agora a cúpula do PT prestar maior assessoria ao acuado prefeito Haddad, inclusive com a ajuda pessoal de Lula. Aliás, o bom senso pede que os políticos que tenha alguma massa cinzenta na cabeça comecem a lembrar de que a vida pública não é apenas colher votos via distribuição de bolsas-esmolas e demagogias baratas. Enquanto os trabalhadores e estudantes se “cansam”, fazem um trabalho ingênuo de desestabilização do governo federal, cria espaços claros para o retorno da direita e leva o país para mais um retrocesso de sua história. As elites são muito mais matreiras e sabem sempre se assentarem no poder, utilizando-se das formas mais sorrateiras possíveis para permanecerem intactas diante de todo o processo.
Diante do afã reivindicatório moralizante, diversidade de atores sem coesão alguma e sem nenhum norte programático, um perigoso cavalo de Tróia parece estar sendo desenhado, bem debaixo do calor dos acontecimentos e justas reivindicações populares. A massa se torna uma passa pela densidade numérica, mas longe de ser uma oposição reivindicatória que possa, de fato, refletir alguma contribuição substancial (exceto para os românticos de plantão e seus discursos inflamados sobre as latentes subjetividades). As elites sabem bem disto, áreas sempre soube se aproveitar das carências e demandas sociais e vão aproveitar, ao máximo, essa cansada amnésia popular para uma triunfal volta ao poder. Pior para os resquícios das esquerdas, que cada vez terão diminuído seu espaço que será reconquistado por partidos de centro-direita. O discurso “apoliticamente correto”, a negação da política, somente serve para a direita e seus fascistas de plantão. Neste balaio de gatos, cães, ratos e outros bichos, onde todos metem a mão, uma coisa é certa: nem tudo que reluz é totalmente ouro. A guinada à direita parece se projetar para uma realidade materializante. Diante de uma realidade com ares surreais, a Caixa de Pandora está começando a se abrir e sem um lastro bem definido, bem típico das surpresas que a História nos concede.
Quando todos cansam da política, alguém bem descansado sempre irá ocupar o vácuo deixado pelos cansado. Tudo como o diabo gosta para o próximo ano. Aliás, o diabo bem endireitado!


* WELLINGTON FONTES MENEZES é Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus Marília.  Bacharel e Licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP). Blog: www.wfmenezes.blogspot.com.br  Contato:wfmenezes@uol.com.br

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