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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Padrão de avaliação de “produtividade” da CAPES causa estragos - e não é de hoje




Padrões de avaliação de “produtividade” da CAPES vem causando sérios estragos à saúde (física e mental) dos professores, além de promover cenas de desrespeito ao trabalho de pessoas que, durante boa parte de suas vidas contribuíram para o bom desempenho da educação.

Acuados pelos critérios puramente quantitativista fundados no espírito neoliberal, os Programas de pós-graduação tornam-se reféns da pernóstica política e acabam por reproduzir práticas nocivas ao fazer acadêmico e resultados desastrosos. Este foi o caso dos programas de pós-graduação stricto senso da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), instituição confessional e que tem história no Brasil não só no campo da pós que anteciparam o próximo processo de avaliação da CAPES. O caso específico se refere PEPGCS (Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUCSP). O Manifesto a seguir explica o mais novo episódio. A carta da vítima de que se trata este episódio completa as informações e mostra uma indignação que não é só dela, mas de todos os professores do país.
Segundo professor da PUCSP, que não temos autorização para identificar, “Se alguém escreve mais um livro de O Capital ou A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, isto pouco ou nada vale. Se escreve três artigos por ano e publica em revistas Qualis A, com várias das quais tem relações não exatamente científica, fica numa boa e ajuda o Programa de que participa a ficar bem classificado. A competição é feroz dentro dos programas e entre eles, pois implica verbas, bolsas, direito de ter ou não ter doutorado etc.”.

Mais informações, clique Jornal Semanal da APROPUC e AFAPUC
 

MANIFESTO Á COORDENAÇÃO DO PEPG EM CIÊNCIAS SOCIAIS 

Nós, ex-alunos do PEPG em Ciências Sociais da PUC-SP e da Graduação do Curso de Ciências Sociais, VIMOS EXPRESSAR NOSSO REPÚDIO E INDIGNAÇÃO ao descredenciamento do MESTRE E Professor Doutor Miguel Wady Chaia, Do corpo docente deste programa.
CONCLAMAMOS A TODOS DA COMUNIDADE PUQUIANA E ACADÊMICA para que assinem este MANIFESTO, exigindo a ratificação de critérios injustos e arbitrários que menosprezam o patrimônio de valoroso capital humano representado pelo Professor Dr. Miguel Chaia.
Não aceitamos e protestamos pela revogação da ação arbitrária do Comitê, que descredenciou e julgou o Prof. Dr. Miguel Wady Chaia como “pouco produtivo”.
A Universidade que conhecemos e estudamos se distinguia das demais pela presença de professores ativos e produtivos, que dedicaram suas trajetórias à construção do corpo e da alma da PUC-SP.
Graças aos esforços pessoais desses professores, o PEPG em Ciências Sociais se destaca na construção de um projeto democrático de ensino, por uma universidade plural, aberta e dedicada à construção de saberes multidisciplinares, acolhedora de variadas matizes e ideologias. Este ideal torna a PUC/SP bastião de resistência ao pensamento único de dissensos destruidores da diversidade científica e que esvaziam o campo das ideias da vasta área denominada humanidades.
A permanência do Professor Dr. Miguel Chaia no Programa é fundamental para a continuidade da formação generacional de estudantes capacitados com saberes científicos, críticos e engajados, por sua relevante importância na atuação das áreas das ciências política, da cultura, da sociologia e Ciências Sociais como um todo.
A rica e dedicada experiência acadêmica do Professor Miguel Chaia é respeitada e reconhecida incontestavelmente nos meios científicos e acadêmicos das universidades do Brasil e exterior. Não somente como professor e formador de alunos, como por seus livros e relevantes artigos, nas atividades do NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP), no desempenho criterioso de encargos burocráticos, destacando-se recentemente na direção e administração da EDUC, elevando o prestígio desta instituição com a publicação de livros e coletâneas de inegável qualidade acadêmica, muitos dos quais premiados em todo o país.
Excelência não ocorre sem dedicação. A qualidade das aulas ministradas pelo referido mestre, as pesquisas por ele produzidas, suas orientações (mestrado, doutorado e pós-doutorado), os inúmeros artigos e livros constante de seu lattes, as participações em Bienais e Congressos, são atividades que garantiram a consagração e o prestígio do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais por todo o país, atraindo alunos e ajudando a pontuar e bem avaliar o Programa na CAPES.
Estes critérios deveriam ser justificativas válidas para os digníssimos membros da 'Comissão de Avaliação de Produtividade' manterem o credenciamento do Professor Miguel Chaia no PEPGCS. Não aceitamos este bizarro mercantilismo avaliativo, que nivela por baixo o que há de melhor na PUC-SP, esquecendo-se da lição de que só pode haver think tankers com investimento no capital humano das instituições.
Como diria Luther King: "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons". Nossa revolta nos impede de nos juntarmos ao “silêncio conivente dos bons”, de sentença injusta porque instrumentalizada por uma genealogia do Terror, em que se bifurca a própria destruição da PUC/SP que conhecemos e corrompe o caráter do que foi o PEPG em Ciências Sociais. E, no limite, destrói a excelência e renome de professores que a consagrou.
Em nome dos ex-alunos desta instituição, que tiveram o privilégio de conhecer ou ter tido como Mestre o Professor Miguel Chaia, manifestamos nossa solidariedade, exigindo uma retratação.

Quando desta postagem, o Manifesto contava mais de uma centena de assinantes solidários com o professor Muguel Chaia.

Carta do professor Miguel Chaia, vítima nesse processo

 
São Paulo, 27 de outubro de 2014.



À Coordenação do PEPG em Ciências Sociais (PUCSP)
O soco acadêmico me pegou de jeito, bem no fígado: rebaixamento a professor colaborador, eufemismo para descredenciamento. Experimentei o constrangimento de perder as credenciais num bom momento da carreira, sentir-se um convidado em sua própria casa.
Considero injusta a sentença lançada sobre as minhas atividades acadêmicas, emitida pela comissão de avaliação e pela coordenação do programa. Discordo do resultado e do processo que levou a esta sentença, mesmo que ele tenha se dado no interior de uma tendência atual nas universidades.
Além do mais acho omissa, burocrática e insensível a coordenação do programa, tão apegada ao exercício do pequeno poder que nem suspeita que dois mais dois são cinco. É preciso ter sabedoria e boa vontade para defender sim, simultaneamente, os interesses da instituição e de seus pares.
Acho injusta a sentença, pois no período da avaliação, produzi um dos melhores textos da minha trajetória – longo, denso e criativo – fruto de mais um ano de pesquisa meticulosa sobre arte e micropolítica. Ele foi publicado pela Editora Cosac Naify, que tem Prêmio Nobel em seu catálogo.
Acho injusta a condenação, porque no período em questão organizei um substancioso livro sobre cinema e política, do qual produzi um capítulo. Selecionei os textos, li, reli, tive dúvidas e após um bom tempo já está no prelo pela Editorial Azougue (RJ).
Acho injusta a sentença, pois nesta época toda, fui diretor da EDUC, fantástica editora universitária da PUC-SP. Nesta fábrica magnífica de pontuações para a CAPES, incentivei a publicação de dezenas de livros e revistas. Professores da casa e de outras universidades receberam, pela EDUC, inúmeras pontuações.
Acho injusta a condenação, pois no período em questão participei da diretoria da Bienal Internacional de São Paulo e de seu comitê curatorial que elegeu em suas edições o tema “Arte e Política”, sem remuneração, levando o nome da PUC-SP e do NEAMP para além dos muros da universidade.
Acho injusta a sentença porque participo como um dos pesquisadores principais do Projeto Temático/FAPESP “Lideranças Políticas no Brasil: características e questão institucional”.
Acho injusta a condenação, pois há três anos estou aperfeiçoando um longuíssimo texto sobre o Poder Político em William Shakespeare, a partir do seu aprendizado com Maquiavel. Só agora é que ele está quase pronto para ser encaminhado para eventual publicação. Para mim o processo intelectual é lento, gostosamente penoso, que exige reflexão demorada e uma íntima contemplação.
Critico a coordenação por não defender seus pares, por não dificultar a aplicação da pena, por deixar que professores sérios e históricos recebessem penas imerecidas.
A coordenação foi ineficiente ao aplicar a penalidade quando já estavam planejadas as atividades acadêmicas para o primeiro semestre de 2015.
A coordenação foi deselegante na forma como conduziu a comunicação da sentença aos professores.
Conclusão: por isso tudo inicio um processo para me desligar do PEPG em Ciências Sociais. Não tenho mais a mínima vontade de atuar junto ao programa. Ficarei apenas o tempo necessário para orientar os excelentes mestrandos, doutorandos e um pós-doutorando sob a minha responsabilidade.
Sou produtivo e escrevo muito, para o meu aprendizado e formação intelectual, para os meus interlocutores e, principalmente, para o meu prazer. Não gosto de ser medido por números rasos. Mesmo que eu já tenha construído um significativo espaço para contribuir com o desenvolvimento do programa, desde o início dos anos 90, agora não quero mais trabalhar nele. Simples assim, com certa leveza: bye, bye pós-graduação.
 
Miguel Chaia


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