Neste dia 3 de dezembro, saímos
às ruas em todo o país para denunciar o modelo da morte que domina a
agricultura brasileira: o agronegócio.
Há exatos 30 anos, explodia a
fábrica de agrotóxicos da Caribe Union, atual Dow Chemical, na cidade de
Bhopal, Índia. Na tragédia, mais de 16.000 pessoas morreram, e pelo menos
560.000 foram gravemente intoxicadas.
Bhopal não foi um acidente.
Assim como também não foi um acidente a chuva de venenos na escola de Rio de
Verde (GO), e tantas outras tragédias anunciadas pela ganância daqueles que
afirmam que a comida que nos alimenta só pode ser produzida com muito veneno.
Eles lucram muito com isso.
Em 2013, o mercado de
agrotóxicos rendeu US$11,5 bilhões. O lucro se concentra em 6 grandes empresas
transnacionais: Monsanto, Basf, Syngenta, Dupont, Bayer (fabricante do gás
letal usado pelos nazistas) e a Dow, que até hoje não reconhece sua
responsabilidade sobre Bhopal.
Ano após ano, o Brasil bate
recordes de consumo de agrotóxicos e sementes transgênicas. A população
brasileira está sendo envenenada. Nas águas, no solo, nos alimentos, em
pequenas doses diárias, ou em chuvas de veneno, temos contato com substâncias
que causam câncer, levam ao suicídio, e provocam abortos espontâneos, entre
outros vários efeitos.
A ciência comprometida com a
saúde pública coletiva não tem dúvidas. De acordo com o Instituto Nacional do
Câncer (INCA), com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com a Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), é preciso se “mobilizar frente à grave
situação em que o país se encontra, de vulnerabilidade relacionada ao uso
massivo de agrotóxicos.”
De acordo com estas
instituições, os agrotóxicos causam danos à saúde extremamente graves, “como
alterações hormonais e reprodutivas, danos hepáticos e renais, disfunções
imunológicas, distúrbios cognitivos e neuromotores e cânceres, dentre outros.
Muitos desses efeitos podem ocorrer em níveis de dose muito baixos, como os que
têm sido encontrados em alimentos, água e ambientes contaminados. Além disso,
centenas de estudos demonstram que os agrotóxicos também podem desequilibrar os
ecossistemas, diminuindo a população de espécies como pássaros, sapos, peixes e
abelhas.”
Por que tanto veneno?
A opção clara da política agrícola
brasileira pelo agronegócio é a grande responsável pela situação. O agronegócio
utiliza largas extensões de terras, os latifúndios, para plantar uma mesma
espécie – normalmente soja, milho, algodão, eucalipto ou cana-de-açúcar. Dessa
maneira, destrói a biodiversidade e desequilibra o ambiente natural,
facilitando o surgimento de plantas, insetos ou fungos que podem destruir a
plantação. Por isso, é uma agricultura dependente química: só funciona com
muito veneno. O agronegócio também utiliza maquinário pesado, que compacta o
solo, e não gera empregos, favorecendo assim o êxodo rural.
No legislativo brasileiro, um
grupo de deputados e senadores de vários partidos formam a chamada Bancada
Ruralista, que tem como objetivo incentivar o agronegócio, o trabalho escravo,
o desmatamento, lutar contra a demarcação de terras indígenas, quilombolas e
contra a reforma agrária.
Kátia Abreu (PMDB/TO), Ronaldo
Caiado (DEM/GO) e Luis Carlos Heinze (PP/RS) são alguns dos expoentes desta
bancada. Estes políticos se elegem graças a altíssimas cifras doadas nas
campanhas pelas empresas do agronegócio, como a JBS, BRF e Marfrig, e na
prática agem como empregados destas empresas dentro do congresso e do senado.
Os ruralistas também dominam o Ministério da Agricultura, que recebeu a cifra
de R$140 bilhões neste ano.
No ano passado, esta bancada
aprovou uma lei (12.873/2013) que permite uso de agrotóxicos proibidos no
Brasil por serem altamente nocivos, e já conseguiram até demitir funcionários
das agências reguladoras que lidam com o tema.
Após as eleições de 2014, os
ruralistas declararam ter 51% do Congresso Federal. É necessária uma reforma
política que decrete o fim das doações eleitorais de empresas para acabar com
estas verdadeiras pragas da política brasileira.
Nós construímos uma
alternativa: a agroecologia Camponesas e camponeses do Brasil são aqueles que
botam comida na nossa mesa. E somente elas e eles podem praticar a
agroecologia. Agroecologia é um jeito de organizar a produção agrícola e a vida
no campo em harmonia com a Natureza. Na agroecologia, se produzem diversos
tipos de alimentos numa mesma área, fortalecendo assim a biodiversidade e
deixando a natureza equilibrada. Desta forma, não é necessário usar
agrotóxicos, nem fertilizantes sintéticos, e muito menos sementes transgênicas.
A agroecologia também busca uma vida digna no campo, com saúde e educação
adequadas à realidade do campo.
Repudiamos a tese de que pobres
têm que comer veneno. Não há mais dúvidas de que podemos alimentar a população
com a produção agroecológica. Até mesmo a ONU reconhece que a agroecologia é
única solução verdadeira para a fome no mundo, e pode inclusive ajudar a frear
as alterações climáticas.
O que queremos?
A população brasileira está
unida na luta pela fim dos agrotóxicos e em defesa da vida. Queremos
Agroecologia.
Movimentos sociais do campo, da
cidade, sindicatos, instituições públicas de pesquisa, estudantes, e inclusive
o Ministério Público vem se articulando junto à Campanha Permanente Contra os
Agrotóxicos e Pela Vida.
Nossa luta é por comida sem
veneno e um congresso sem ruralistas, que represente de fato os interesses do
povo.
De imediato, pedimos:
· A proibição da prática
criminosa da pulverização aérea, a exemplo do que ocorre na União Europeia;
· O banimento de agrotóxicos já
banidos em outros países do mundo;
· O fim das vergonhosas
isenções de impostos dadas aos agrotóxicos;
· A criação de zonas livres de
agrotóxicos e transgênicos, para o livre desenvolvimento da agroecologia;
· Maior controle para evitar a
contaminação da água por agrotóxicos.
Convocamos toda a população a
se engajar nesta luta, através dos comitês da campanha espalhados pelo Brasil.
Campanha Permanente Contra os
Agrotóxicos e Pela Vida.
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